21.10.09

Contratempo (ou aproveitando o tempo esperando a chuva diminuir vendo-o passar)

Salve o tempo. Não o metereológico, que nas últimas semanas nos tem provido dias de pouca praia e muito cinza. Melhor, vou ajeitar (ou azeitar?) a frase: salve o tempo! Agora sim... Que sensação divina é a do tempo! A percepção dele caminhando, ora lentamente, ora na velocidade de um Halley, tem se tornado cada vez mais bela e incrível com o passar dos anos e com o acúmulo de experiências. Quantas vezes queremos que ele ande depressa, mas ele se aloooooonga... E quantas vezes desejamos que dure para sempre e tudo se vai num piscar de olhos... É o dito "tempo das coisas", que passamos a administrar melhor assim que conseguimos dosar nossas injeções diárias de ansiedade e de ócio benigno.

"Cada coisa tem seu tempo": como ouvimos essa frase ao longo da vida, não é mesmo? Porém, jamais nos conformamos com o seu ritmo. Achamos sempre que gastamos demoradas horas na fila para curtir somente alguns parcos minutos de montanha russa. E não é verdade? Mas, se o passeio tiver sido emocionantemente prazeroso, ninguém titubeia em voltar à fila. E não é que é verdade de novo?! Cada um que tire a conclusão que quiser, mas é engraçado que, quando envolve o prazer, nada demora, tudo é muito veloz. Agora, se for algo que suga o seu humor, vem sempre um "tá demorando pacas"... O ser humano, numa ótica particular, é um bicho ansioso por natureza, porque projeta sua ideia do que está para acontecer e quanto tempo ela tem para se concretizar. Se está dentro da faixa de conforto, beleza... Mas, se levar mais tempo do que se imaginou, babou... Esperar é angustiante! Por isso que a sapiência do tempo está em saber esperar, fingir-se de morto para ele. Ou como disse perspicazmente meu compadre Moyseis Marques: o lance é dar o velho golpe do jacaré cansado! O bicho fica ali, quietinho, na sua, parecendo até um tronco de árvore a boiar, mas que, na primeira oportunidade, vai lá e dá o bote. Se esquivar da ansiedade, eis a receita para aceitar o tempo das coisas.

Estou num compasso de aquaplana, porém, inquietante espera. Mas, felizmente, aprendendo com ela a entender que determinadas coisas só acontecerão no seu devido tempo, quando estiverem de realmente ser. Não adianta querer atropelar justamente aquele que vai ditar as regras desse jogo: o tempo. Tentar, sim, perceber cada segundo/minuto/hora de cada dia/mês/ano da vida com mais clareza e menos angústia. Por que temos que decidir tudo rapidamente? Pra quê esse frenesi, entrar nessa correria "muderna"? Tudo é em tempo real... Será mesmo "real"? O grande barato está em observar mais as coisas, captar suas nuances. Infelizmente, na prática e de forma até contraditória a esse feeling, meu trabalho envolve justamente o famigerado tempo real, com o sobe e desce de bolsa de valores, monitoramento de agências de notícias, ambos atualizados minuto a minuto... Entretanto, ao invés de me deixar perturbar, farei com que sirva de parâmetro para saber curtir o tempo vagoroso, como o do pescador com a linha na água no aguardo do peixe, na placidez da lagoa. Perceber que o tempo não é dele, é do peixe.


Musicografia:

"Resposta ao tempo" (Nana Caymmi)
"Time" (Pink Floyd)
"Sobre o tempo" (Pato Fu)
"Tempo de abertura (Samba Tempo)
"Tempo de abertura (Samba Tempo)" (Taiguara)
"Rock around the clock" (Bill Haley and the Comets)
"Tempo Rei" (Gilberto Gil)
"Time after time" (Cindi Lauper)
"Tempo, tempo, tempo" (Caetano Veloso)
E, pra fechar: "Remember the time" (Michael Jackson) rs...

No comments: