21.10.09

Não sai da minha cabeça...

"Tour Guide At The Winston Churchill Memorial" (Guided by Voices)
[do álbum "Half Smiles of th Decomposed" (2004)]

Oh, she's so on top of things
Gone out but so looking thin
She's got a heart pressed to the ground
To extend her knowledge
And I'll spend my life with her now
She dreams of sleeping now
And how she can take me inside
And now it's warm and cold all around
Be on top of me now
Be on top of me now
She already is
As far from you crying now
The longest day dying now
So I guess some truth belongs to us
In places that tremble and wish
And a citizen of there am I
She comes to play along
Be on top of me now
Be on top of me now
She already is
As far from you crying now
The longest day dying now
Kinda slow without you
I wanna know about you now
It's all in me now
It's all in me now
It's all in me now
Citizen of there am I of
All me now
It's all in me now
It's all in me now
Citizen of there am I


Contratempo (ou aproveitando o tempo esperando a chuva diminuir vendo-o passar)

Salve o tempo. Não o metereológico, que nas últimas semanas nos tem provido dias de pouca praia e muito cinza. Melhor, vou ajeitar (ou azeitar?) a frase: salve o tempo! Agora sim... Que sensação divina é a do tempo! A percepção dele caminhando, ora lentamente, ora na velocidade de um Halley, tem se tornado cada vez mais bela e incrível com o passar dos anos e com o acúmulo de experiências. Quantas vezes queremos que ele ande depressa, mas ele se aloooooonga... E quantas vezes desejamos que dure para sempre e tudo se vai num piscar de olhos... É o dito "tempo das coisas", que passamos a administrar melhor assim que conseguimos dosar nossas injeções diárias de ansiedade e de ócio benigno.

"Cada coisa tem seu tempo": como ouvimos essa frase ao longo da vida, não é mesmo? Porém, jamais nos conformamos com o seu ritmo. Achamos sempre que gastamos demoradas horas na fila para curtir somente alguns parcos minutos de montanha russa. E não é verdade? Mas, se o passeio tiver sido emocionantemente prazeroso, ninguém titubeia em voltar à fila. E não é que é verdade de novo?! Cada um que tire a conclusão que quiser, mas é engraçado que, quando envolve o prazer, nada demora, tudo é muito veloz. Agora, se for algo que suga o seu humor, vem sempre um "tá demorando pacas"... O ser humano, numa ótica particular, é um bicho ansioso por natureza, porque projeta sua ideia do que está para acontecer e quanto tempo ela tem para se concretizar. Se está dentro da faixa de conforto, beleza... Mas, se levar mais tempo do que se imaginou, babou... Esperar é angustiante! Por isso que a sapiência do tempo está em saber esperar, fingir-se de morto para ele. Ou como disse perspicazmente meu compadre Moyseis Marques: o lance é dar o velho golpe do jacaré cansado! O bicho fica ali, quietinho, na sua, parecendo até um tronco de árvore a boiar, mas que, na primeira oportunidade, vai lá e dá o bote. Se esquivar da ansiedade, eis a receita para aceitar o tempo das coisas.

Estou num compasso de aquaplana, porém, inquietante espera. Mas, felizmente, aprendendo com ela a entender que determinadas coisas só acontecerão no seu devido tempo, quando estiverem de realmente ser. Não adianta querer atropelar justamente aquele que vai ditar as regras desse jogo: o tempo. Tentar, sim, perceber cada segundo/minuto/hora de cada dia/mês/ano da vida com mais clareza e menos angústia. Por que temos que decidir tudo rapidamente? Pra quê esse frenesi, entrar nessa correria "muderna"? Tudo é em tempo real... Será mesmo "real"? O grande barato está em observar mais as coisas, captar suas nuances. Infelizmente, na prática e de forma até contraditória a esse feeling, meu trabalho envolve justamente o famigerado tempo real, com o sobe e desce de bolsa de valores, monitoramento de agências de notícias, ambos atualizados minuto a minuto... Entretanto, ao invés de me deixar perturbar, farei com que sirva de parâmetro para saber curtir o tempo vagoroso, como o do pescador com a linha na água no aguardo do peixe, na placidez da lagoa. Perceber que o tempo não é dele, é do peixe.


Musicografia:

"Resposta ao tempo" (Nana Caymmi)
"Time" (Pink Floyd)
"Sobre o tempo" (Pato Fu)
"Tempo de abertura (Samba Tempo)
"Tempo de abertura (Samba Tempo)" (Taiguara)
"Rock around the clock" (Bill Haley and the Comets)
"Tempo Rei" (Gilberto Gil)
"Time after time" (Cindi Lauper)
"Tempo, tempo, tempo" (Caetano Veloso)
E, pra fechar: "Remember the time" (Michael Jackson) rs...

Tela Chapa Quente*

(texto originalmente escrito em 8 de outubro de 2009)


Perdi o ao vivo, mas não perdi a piada: ontem assisti a um vídeo das Panicats dando um show de boa forma numa praia de nudismo, que foi originalmente exibido ao vivo no Pânico na TV no domingo passado. O quadro - com a devida licença poética incluída, por favor! - fez com que a audiência do programa chegasse ao primeiro lugar do horário, desbancando os highlanders Gugu, Sílvio Santos e Fantástico. Caso não tenha visto, explico a "pintura": duas modelos voluptuosas (para não usar termos de baixo calão), completamente nuas, se exibiam para as câmeras à beira mar em poses de corar anjinho de igreja, cobertas apenas por um blur muito "do" safado e mini tarjas pretas em suas partes, digamos, mais íntimas (em tempo: caro (a) colega, se não viu , vá assistir... Jogue no Google "Panicats na praia de Tambaba" que aparece... E, à la Galvão: "haja coração!").


O fato é o seguinte: eram por volta das 20/21 horas de um domingo... Horário nobre da família brasileira. Sem conservadorismo e nem falso pudor, pela qualidade, digo, pelo conteúdo das imagens, fiquei imaginando o pânico (rá!) dos pais que estavam assistindo-as com seus filhos. Não pela condição moral, mas sim, por aquela falsa aura de recato que acomete a figura maternal/paternal nesses imbróglios. As expressões de horror e repúdio, seguidas de gemidos de "oh!" ou “meu Deus!” e o velho tapa olho na molecada, são instintivas. Por mais que nunca houvesse nenhum problema em ler Playboy ou gibis de sacanagem na minha família por parte da garotada (e dos marmanjos também!), rolava sempre um constrangimento geral na sala quando rolavam cenas picantes na TV lá de casa. Não se escutava "oh!" e nem tinha tapa olho, mas na primeira demonstração de libidinagem vinha uma trava: "olha o respeito, moleque!". Ou seja, tudo era permitido na intimidade, mas, no "vamos ver", não funcionava bem assim...


Por falar nisso, em privacidade, coisa e tal, entremeando as imagens das meninas havia a inserção de um cara descascando uma banana, a fruta mesmo, fazendo analogia ao ato solitário masculino de prazer. Confesso que achei a piada boa. Pensei na quantidade de jovens e velhos onanistas trancafiados em seus aposentos, rendendo homenagem àquelas modelos calipígias. Lembrei-me dos meus tempos de "Dama do Lotação", com Sônia Braga; dos filmes da Adele Fátima e, claro, do clássico "Olho Mágico do Amor", com aquela cena final da Carla Camurati com a Tânia Alves num velcro sensacional. Colocava o skate em pé na porta para ser avisado caso a barra sujasse... Aliás, um camarada, que navegava por um chat de torcedores do Fluminense - que programão prum domingo, né?! Logo depois da chinelada que levaram do meu Mengão! É... O Imperador voltou! -, me disse que, no iniciar das imagens na TV, logo postaram na página os dizeres: "ligue Pânico na TV agora!", em múltiplas mensagens. Era a união virtual dos onanistas tricolores em prol de um domingo maior! Além da gozação, literalmente, fica a reflexão para outro texto: imagine o quanto de audiência a Rede TV deve ter ganhado no troca-troca de MSN, Twitter, Facebook, SMS e afins, de telespectadores que estavam na internet naquele momento e migraram para a televisão? É a força da grande rede mostrando os dentes... A TV que se cuide...


A questão do horário, além da moral, também evidencia outro aspecto: a briga pela audiência está sinistra, para não dizer outra coisa. Essa luta por pontos na escala Richter do Ibope tem provocado um efeito de baixo nível geral. Não pelas meninas - que eram de altíssimo nível, por sinal - mas, para o show de pouca roupa, pouco conteúdo, pouca coisa aproveitável. E dá-lhe barracos de famosos, muito palavrão, muito non sense, muito quadro bobinho com animais, "muito pouca coisa". Outro dia, cheguei do trabalho e liguei no SBT. O programa era "Pegadinhas Picantes". Peitos, bundas, gente seminua a rodo, tudo o que você quer depois de um dia de ralação daqueles. O legal (é, peguei pesado...) é que eram umas 8 horas da noite! "Dá-lhe Silvão! 'Tamo junto, fera!", pensei... Mas, depois, veio a imagem de minha vovó lá em Saquarema esperando a novela "Vende-se um véu de noiva"... (Nota: ela não gosta das novelas da Globo... Acha tudo muito "Zona Sul"... O lance dela é "Mutantes - Caminhos do coração" e que tais...). Pô, minha vovózinha que tanto amo e prezo não merece essa, né?! Sem contar TV Famas, Lucianas Gimenêzis, Adrianas Galisteusis, Daniellas Cicarellis, Big Brothers, As Fazendas... Haja TV a cabo! Haja Hollywood! Por isso, que hoje "as elite" só falam de "Sex and the City" pra baixo... Pra baixo? Porque acham esse programa de TV o máximo... Captou? É... Essa não foi boa mesmo...


Mas, pra fechar, antes que pensem diferente: mulher pelada é coisa linda de se ver, mas sem apelação! O Brasil sempre pendeu para a sacanagem desde os tempos em que Cabral e sua trupe descobriram não só a existência do nosso território, mas também o quão bom era fornicar com nossas índias e, posteriormente, com as deusas de ébano vindas da África. O carnaval está aí todo ano espalhando o nosso íntimo sacana pelo worldwide. O batidão do funk – do qual sou fã – também contribui com suas letras pornográficas e danças idem, e suas mulheres melancia, melão, jaca, jenipapo, graviola... Sem contar a bunda music, febre que já passou graças ao Pai, com É o Tchan! e seus genéricos... Aliás, tem uma história curiosíssima do Tchan: a única invasão de palco, por parte da platéia, no polido festival de jazz de Montreux, na Suíça, país seríssimo (rá!), foi de um gringo local enlouquecido com o derrière de Carla Perez. Nossas mulheres são as melhores do mundo, na modesta opinião deste escriba. Mas, mulher pelada em horário nobre é demais. Essa mesquinharia por audiência tem que ter um limite. Será que o povo só quer sacanagem? Será que não temos roteiristas e staff televisivo para realização de programas de melhor nível? Que tenham as mulheres deliciosas que tanto amamos, mas sem vulgaridade, sem absurdos. Por falar em absurdo, veja essa: acabo de ver aqui no Globo On line que o supra sumo da literatura folhetim Manoel Carlos foi notificado pelo Ministério Público por causa do uso de uma vilã mirim na novela das oito, que não será liberado, para que não influencie outras crianças! Ah... Mulher pelada, de quatro, na beira da praia, pode... Devem achar que isso que é boa influência...


Nota (1) - da coluna "Entre Linhas", do jornal O Estado de São Paulo de hoje: "O festival de peladas do último Pânico chamou a atenção do Ministério da Justiça. No mau sentido. Apesar de o conteúdo não fugir da classificação indicativa do horário, outras apelações do gênero não passarão sem advertências do órgão".


Nota (2) - da coluna "Outro Canal", da Folha de São Paulo de hoje: "Depois de mostrar na TV duas panicats em uma praia de nudismo, Alan Rapp, diretor do "Pânico na TV", lançou no Twitter a possibilidade de que a matéria seja exibida sem as tarjas na internet, garantindo a nudez total. Segundo Rapp, isso só depende da autorização das garotas. O programa já exibiu sem censura na rede um quadro cheio de palavrões".


Nota (3) - achou contraditório reclamar da sacanagem alheia sem prestar a atenção em quanta sacanagem foi escrita aqui? É porque a sacanagem está nos olhos e no sentimento de que a vê... Pense nisso!


* Texto escrito para uma coluna fictícia numa revista idem, que será projeto de monografia de um amigo

Tira-gosto #1

A palavra é... Desejo!

"Só o desejo inquieto, que não passa, faz o encanto da coisa desejada... E terminamos desdenhando a caça pela doida aventura da caçada" (Mario Quintana)

"Desejo é impulso, acompanhado da imagem da sua satisfação; surge quando há demora na satisfação desse impulso" (Donald Pierson)

"Há duas catástrofes na existência: a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando o são" (George Bernard Shaw)

"O desejo, acompanhado da idéia de satisfazê-lo, chama-se se esperança; despojado de tal idéia, desespero." (Thomas Hobbes)

"O desejo não precisa ser destruído, precisa ser purificado. O desejo não tem que ser abandonado, tem que ser transformado. O seu próprio ser é desejo; ser contra isto é ser contra você mesmo e contra tudo" (Osho)

"O desejo é a metade da vida; indiferença é a metade da morte” (Autor desconhecido)

"Contento-me com pouco, mas desejo muito" (Miguel de Cervantes)

"Amor é o desejo irresistível de ser irresistívelmente desejado" (Robert Foster)

"Cuidado com o que desejas" (Mamãe)

IceMan #2

(originalmente postado em minhas notas do FB em 24 de agosto de 2009)

Às vezes, pecamos pela omissão. Em outras ocasiões, pecamos pelo silêncio. O último fim de semana revelou que todas as vezes que nos portamos indiferentes a assuntos que podem fazer nossa vida virar de cabeça para baixo, o desfecho de uma história tem contornos surpreendentes. Primeiro, por tal indiferença ser nada mais do que uma máscara, ou melhor, um fino véu que neblina nossa visão da percepção do óbvio. Uma cegueira chapa branca, na qual se enxerga, mas não se percebe o visto. Em segundo plano, essa pretensa indiferença também nos priva de qualquer expectativa: o que vier é lucro, podem pensar uns; ou pode levá-lo à bancarrota.

Essa falsa insensibilidade cria um hiato entre a ação e a reação que temos diante de um fato novo. Vemos, mas esfregamos os olhos para verificar se é real. Cremos, mas não pagamos para ver. Será que somente aquela mirada de rabo de olho é suficiente para captar toda a atmosfera de um ambiente, de um cenário? Ou será capaz somente aquele olhar contemplativo, de quem fita o horizonte cuidadosamente? Ou, quem sabe, a firmeza dos olhos-nos-olhos-quero-ver-o-que-você-faz? As oportunidades passam e são vistas, porém não são aproveitadas. Mero descaso? Ou medo do que elas podem trazer à tona? O temor do passo a frente, eis a questão.

Permaneci durante muito tempo indiferente às coisas que me cercam. Quando a vida anda bem, nos desligamos de certos aspectos da mesma. O mundo se acabando e você achando que é tudo normal, que é da ordem natural das coisas. Sabe aquele "foda-se" consentido no peito? Como quem dá de ombros? Pois é... Entrei nessa onda e, quando percebi, veio o caixote. Demorei muito a pular de cabeça em determinadas situações. Me rendi à apatia, à negligência. Preferi o véu da indiferença. Preferi camuflar sentimentos, desejos e anseios.

Aprendi mais essa lição, que parece simples, mas não é. É sempre complicado enxergar nossos próprios pontos falhos, onde sabemos que estamos vacilando e não movemos uma palha a respeito. Decidi mover. Não só uma palha, mas o espantalho todo. É hora de fazer valer a pena. É minuto de deixar de se tolher. É segundo para dar não só a mão, mas o corpo inteiro. É momento mutante. À ruína o rei sentado no topo de seu mundinho próprio!