22.12.08

Leia esse texto... Não dói nada... (Ou não...)

Uma Vela para Dario

Dalton Trevisan

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.

A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20.

Este texto faz parte dos 100 melhores contos brasileiros do século, seleção de Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva.

19.11.08

bandeira2


Vem aí o lançamento do ano: em dezembro sai o primeiro CD do bandeira2, grupo de sambarock do qual faço parte. São oito músicas próprias, em quase 30 minutinhos de música (muito boa). Este escriba está em seis delas:

"Sei lá..." (em parceria com Marcel Lopez);

"Soda" (c/ Marcel e Andreas Gringo);
"Na social" (c/ Marcel, Andreas, André Aragão e Rodrigo Penna Firme)

"Gambiarra" (c/Marcel, Andreas e Kuteer Vollmer)

"Que Lapa!" e "Acabou o carnaval" (estes compostas comigo mesmo...)
Além de "Vai Nessa" e o sucesso "Ramos, Bonsucesso, Olaria, Penha", ambas de Marcel Lopez.

E o melhor da história: vai custar apenas 5 pratinhas... Molinho.com.br...

A arte acima foi feita pelo camarada Diogo da Fonseca, o "Tirano", e é a capa do CD.

Em breve, postarei aqui uns links para a galera já ir curtindo o clima.

Inté!

oh, yeees!

Primeiro é a lascívia...
Depois, os olhares...
Aí, o tato...
Memória da pele...
Estalo dos beijos...
Travessuras da língua...
Nos lábios...
No pescoço...
Nas saboneteiras...
Subindo até a orelha...
Viagem das mãos...
Até o colo...
Dos seios...
Das pernas...
Aí vem a libido...

Ah, esse maldito fecho éclair...

18.11.08

Rubra


E lá estava ela
Linda,
Radiante...
Aliás,
Como sempre
E eu,
Para variar,
Um pândego,
Sem noção
Ou melhor:
Um trapalhão
Meio "Mussum"
"Cheio de mé
Nos cornis"...
Só dei um tchau,
Mal e porcamente
Pelo menos,
Ela sorriu...
Assim,
Fui contemplado...
Com uma das melhores
Imagens do planeta!
Bela paisagem...
Dotada de luz,
Exuberância
E desejo...
Esse desejo
É por minha conta...
Daqueles incubados
Na salmoura
Do meu sangue

Para ela, que é um colírio pros olhos daquele que não soube enxergar

21.7.08

"I love the ground whereon she stands"...

Um dos meus ídolos...
Mr. Greg Dulli cantando com a sua banda Twilight Singers.
Saca o que ele fez com "Black is the color of my true love's hair", que originalmente
foi gravada pela diva Nina Simone (outra predileta da casa).
O que era um jazz virou isso...
Ah, a música que ele emenda é "Time of the season", do The Zombies.


16.7.08

Só falta ser papai e escrever um livro...

Quem tem uma árvore plantada na Amazônia?
Ah, você tem?
Legal, mas com meu nome escrito?!
Pois é...
Eu tenho!
Rá!

9.5.08

A bela adormecida

Uma da bandas que fez parte da trilha sonora da minha adolescência está de disco novo: o American Music Club lançou "The Golden Age" em fevereiro deste ano após um hiato de dois anos sem novidades. O disco é basicamente formado por canções de roupagem folk, com o violão de aço em primeiro plano, não muito diferente de outros trabalhos da banda. Os arranjos são leves, acompanhando o ritmo do álbum, que é de andamento calmo, com muitas baladas. Porém, o diferencial (pra mim) continua lá: a guitarra distorcida "de orquestra", que apenas faz fundo, tal qual um pad, o que é uma das especialidades do AMC. Outro destaque são as belas melodias criadas pelo cantor e compositor Mark Eitzel, um mestre-baladeiro, em canções como "All my love", "The sleeping beauty", "The stars" e "Who you are".

Esse "nariz-de-cera" acima foi só para fundamentar minha mais nova paixão: "The Sleeping Beauty".

Veja o porquê...

Para ouvir "The Sleeping Beauty", clique aqui

Para baixar "The Golden Age", clique aqui

6.5.08

Para os que não sabem: a alegria de ser rubro-negro é essa!

Time de tradição, raça, amor e paixão:
esse é o meu Flamengo!
30 vezes campeão carioca!
(com títulos conquistados nos últimos anos e não as velharias do tricolor de 1900 e 'guaraná de rolha')

Parabéns ao time!
(com destaque para o 'capita' Fábio Luciano, o 'xará' Bruno, Juan, Marcinho, Tardelli e, claro, o 'Anjo Negro' Obina!)

Parabéns ao 'Papai' Joel
(pelo amor e dedicação ao Mengão: 'Tu é nóis!')

2.5.08

Frase do dia

"Quem fala demais dá 'bom dia' a cavalo"
(Autor desconhecido)

Jogos Mortais III - "Rebirth of the cool"


Maria foi de Miguel.
Depois foi de Otávio.
Passou por Daniel.
Parando na mão de César logo depois.
Cristiano a segurou em seguida.
E deixou para Magno.
Alberto também pegou,
Mas entregou para Damião.
Samuel a resgatou.
Jogando-a em meu colo ao final da música...
A brincadeira era "Escravo de Jó".

30.4.08

Jogos Mortais II - "Midnight Playground"

Era uma multidão...
Vozes e fisionomias
De cores e timbres
Totalmente díspares...
E lá fui eu,
Tentando encontrá-la...
Olhei por ali...
Passei por lá...
Tateei...
E nada...
Um cego nas trevas...
Era como achar
Agulha em palheiro...
A brincadeira era "cabra-cega"

18.4.08

Jogos Mortais I - "O conceito"


Maria beijou José.
Maria beijou João.
Maria beijou Carlos.
Maria beijou Antônio.
Maria beijou Osvaldo.
Maria beijou Marcos.
Maria beijou Pedro.
Maria beijou Plínio.
Maria beijou Cristovão.
Maria beijou Ivan.
E, por fim,
Maria me beijou.
A brincadeira era "passa-anel"...

9.4.08

A vida é um bumerangue...

Since you're aware of the consequences
I can pimp what's left of this wreck on you
Bit into a rotten one, now didn't you?
Now I can watch you chew
Did you have blinders on my dear
Or were you just willing?
Or was I unaware of the damage a lie can do?
I thought you knew

Listen up
Drive it off
Punctuate it with a smoker's cough
Light it up
Stick around
I told you somebody's going down now
Spit it up
Get it out
Let me kiss that beautiful mouth
Tell me is it the same?
My sweetness, my everything
And is this condescending a comfort at all to you?
We bit into a rotten one
Now didn't we?
Well, baby now it's through

"Now you know" (Greg Dulli), por Afghan Whigs

27.3.08

Ela é um barato!

Que nega é essa?
Prendada e caprichosa
É a nega que eu espero
Pra acabar com a minha solidão
Que me invade
Que me machuca
Que me maltrata
Que me funde a cuca

Mas que nega é essa?
Que nega é essa?

Se essa nega gostar de mim
Eu lhe darei um lindo vestido branco
Vestido branco
Com véu e grinalda e flor de laranjeira
No dia mês e hora
E na igreja que ela quiser
Eternamente essa nega vai ser a dengosa
Linda
E beijoqueira
Há de ser minha mulher
Mas que nega é essa?
Que nega é essa?
"Que nega é essa?" de JorgeBen

12.3.08

Levantando as portas!

Após um período de merecidas férias, estou "di vórta"! Cheio de gás!

Foram quase 40 dias (explico: 6 dias do carnaval e 30 dias de regozijo trabalhista) de muita preguiça, muita cerveja, muito samba, muito desenho animado e, claro, mulheres (não botei o "muitas" porque não foi bem assim também!)...

É isso... Assim que tiver o que escrever, escrivinho...

Inté!


1.2.08

Só posso chorar... De alegria!


“Quanto riso, ó,
Quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
O arlequim está chorando
Pelo amor da colombina
No meio da multidão”...



“Bandeira branca, amor
Não posso mais
Pela saudade que me invade
Eu peço paz”...

“Se você pensa que cachaça
É água,Cachaça não é água, não!
Cachaça vem do alambique
E a água vem do ribeirão”...




“Chegou a Turma do Funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos
E eles que ficam tontos”...


“Ô balancê, balancê
Quero dançar com você
Entra na roda
Morena pra ver
Ô balancê, balancê”...

30.1.08

C'est carnaval!


Maintenant j'attends plus
Un lever du soleil
Lequel elle viendra
Dans une fantaisie
Avec des détails dorés
Sur un joli voile blanc
Et montera dans le tramway
En érigeant les bras
Et en m'offrant avec
Le meilleur des sourires...
C'est feu dans la terre,
Enfer dans le ciel
Le feu de l'enfer
Dans un ciel dans la terre
C'est carnaval!

"Et le feu sortait d'elle tel ce qui un volcan,
Tant que j'allumais une cigarette dans leurs flammes..."