(texto originalmente escrito em 8 de outubro de 2009)
Perdi o ao vivo, mas não perdi a piada: ontem assisti a um vídeo das Panicats dando um show de boa forma numa praia de nudismo, que foi originalmente exibido ao vivo no Pânico na TV no domingo passado. O quadro - com a devida licença poética incluída, por favor! - fez com que a audiência do programa chegasse ao primeiro lugar do horário, desbancando os highlanders Gugu, Sílvio Santos e Fantástico. Caso não tenha visto, explico a "pintura": duas modelos voluptuosas (para não usar termos de baixo calão), completamente nuas, se exibiam para as câmeras à beira mar em poses de corar anjinho de igreja, cobertas apenas por um blur muito "do" safado e mini tarjas pretas em suas partes, digamos, mais íntimas (em tempo: caro (a) colega, se não viu , vá assistir... Jogue no Google "Panicats na praia de Tambaba" que aparece... E, à la Galvão: "haja coração!").
O fato é o seguinte: eram por volta das 20/21 horas de um domingo... Horário nobre da família brasileira. Sem conservadorismo e nem falso pudor, pela qualidade, digo, pelo conteúdo das imagens, fiquei imaginando o pânico (rá!) dos pais que estavam assistindo-as com seus filhos. Não pela condição moral, mas sim, por aquela falsa aura de recato que acomete a figura maternal/paternal nesses imbróglios. As expressões de horror e repúdio, seguidas de gemidos de "oh!" ou “meu Deus!” e o velho tapa olho na molecada, são instintivas. Por mais que nunca houvesse nenhum problema em ler Playboy ou gibis de sacanagem na minha família por parte da garotada (e dos marmanjos também!), rolava sempre um constrangimento geral na sala quando rolavam cenas picantes na TV lá de casa. Não se escutava "oh!" e nem tinha tapa olho, mas na primeira demonstração de libidinagem vinha uma trava: "olha o respeito, moleque!". Ou seja, tudo era permitido na intimidade, mas, no "vamos ver", não funcionava bem assim...
Por falar nisso, em privacidade, coisa e tal, entremeando as imagens das meninas havia a inserção de um cara descascando uma banana, a fruta mesmo, fazendo analogia ao ato solitário masculino de prazer. Confesso que achei a piada boa. Pensei na quantidade de jovens e velhos onanistas trancafiados em seus aposentos, rendendo homenagem àquelas modelos calipígias. Lembrei-me dos meus tempos de "Dama do Lotação", com Sônia Braga; dos filmes da Adele Fátima e, claro, do clássico "Olho Mágico do Amor", com aquela cena final da Carla Camurati com a Tânia Alves num velcro sensacional. Colocava o skate em pé na porta para ser avisado caso a barra sujasse... Aliás, um camarada, que navegava por um chat de torcedores do Fluminense - que programão prum domingo, né?! Logo depois da chinelada que levaram do meu Mengão! É... O Imperador voltou! -, me disse que, no iniciar das imagens na TV, logo postaram na página os dizeres: "ligue Pânico na TV agora!", em múltiplas mensagens. Era a união virtual dos onanistas tricolores em prol de um domingo maior! Além da gozação, literalmente, fica a reflexão para outro texto: imagine o quanto de audiência a Rede TV deve ter ganhado no troca-troca de MSN, Twitter, Facebook, SMS e afins, de telespectadores que estavam na internet naquele momento e migraram para a televisão? É a força da grande rede mostrando os dentes... A TV que se cuide...
A questão do horário, além da moral, também evidencia outro aspecto: a briga pela audiência está sinistra, para não dizer outra coisa. Essa luta por pontos na escala Richter do Ibope tem provocado um efeito de baixo nível geral. Não pelas meninas - que eram de altíssimo nível, por sinal - mas, para o show de pouca roupa, pouco conteúdo, pouca coisa aproveitável. E dá-lhe barracos de famosos, muito palavrão, muito non sense, muito quadro bobinho com animais, "muito pouca coisa". Outro dia, cheguei do trabalho e liguei no SBT. O programa era "Pegadinhas Picantes". Peitos, bundas, gente seminua a rodo, tudo o que você quer depois de um dia de ralação daqueles. O legal (é, peguei pesado...) é que eram umas 8 horas da noite! "Dá-lhe Silvão! 'Tamo junto, fera!", pensei... Mas, depois, veio a imagem de minha vovó lá em Saquarema esperando a novela "Vende-se um véu de noiva"... (Nota: ela não gosta das novelas da Globo... Acha tudo muito "Zona Sul"... O lance dela é "Mutantes - Caminhos do coração" e que tais...). Pô, minha vovózinha que tanto amo e prezo não merece essa, né?! Sem contar TV Famas, Lucianas Gimenêzis, Adrianas Galisteusis, Daniellas Cicarellis, Big Brothers, As Fazendas... Haja TV a cabo! Haja Hollywood! Por isso, que hoje "as elite" só falam de "Sex and the City" pra baixo... Pra baixo? Porque acham esse programa de TV o máximo... Captou? É... Essa não foi boa mesmo...
Mas, pra fechar, antes que pensem diferente: mulher pelada é coisa linda de se ver, mas sem apelação! O Brasil sempre pendeu para a sacanagem desde os tempos em que Cabral e sua trupe descobriram não só a existência do nosso território, mas também o quão bom era fornicar com nossas índias e, posteriormente, com as deusas de ébano vindas da África. O carnaval está aí todo ano espalhando o nosso íntimo sacana pelo worldwide. O batidão do funk – do qual sou fã – também contribui com suas letras pornográficas e danças idem, e suas mulheres melancia, melão, jaca, jenipapo, graviola... Sem contar a bunda music, febre que já passou graças ao Pai, com É o Tchan! e seus genéricos... Aliás, tem uma história curiosíssima do Tchan: a única invasão de palco, por parte da platéia, no polido festival de jazz de Montreux, na Suíça, país seríssimo (rá!), foi de um gringo local enlouquecido com o derrière de Carla Perez. Nossas mulheres são as melhores do mundo, na modesta opinião deste escriba. Mas, mulher pelada em horário nobre é demais. Essa mesquinharia por audiência tem que ter um limite. Será que o povo só quer sacanagem? Será que não temos roteiristas e staff televisivo para realização de programas de melhor nível? Que tenham as mulheres deliciosas que tanto amamos, mas sem vulgaridade, sem absurdos. Por falar em absurdo, veja essa: acabo de ver aqui no Globo On line que o supra sumo da literatura folhetim Manoel Carlos foi notificado pelo Ministério Público por causa do uso de uma vilã mirim na novela das oito, que não será liberado, para que não influencie outras crianças! Ah... Mulher pelada, de quatro, na beira da praia, pode... Devem achar que isso que é boa influência...
Nota (1) - da coluna "Entre Linhas", do jornal O Estado de São Paulo de hoje: "O festival de peladas do último Pânico chamou a atenção do Ministério da Justiça. No mau sentido. Apesar de o conteúdo não fugir da classificação indicativa do horário, outras apelações do gênero não passarão sem advertências do órgão".
Nota (2) - da coluna "Outro Canal", da Folha de São Paulo de hoje: "Depois de mostrar na TV duas panicats em uma praia de nudismo, Alan Rapp, diretor do "Pânico na TV", lançou no Twitter a possibilidade de que a matéria seja exibida sem as tarjas na internet, garantindo a nudez total. Segundo Rapp, isso só depende da autorização das garotas. O programa já exibiu sem censura na rede um quadro cheio de palavrões".
Nota (3) - achou contraditório reclamar da sacanagem alheia sem prestar a atenção em quanta sacanagem foi escrita aqui? É porque a sacanagem está nos olhos e no sentimento de que a vê... Pense nisso!
* Texto escrito para uma coluna fictícia numa revista idem, que será projeto de monografia de um amigo